quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Dois Amantes.

As mãos unidas num carinho mútuo terno e quente davam a entender as intenções daqueles indivíduos.
Os olhos fugiam, o olhar certa hora estava no chão, certa hora se fixava num ponto invisível suspenso no ar. No entanto, no momento certo, os olhares se chocaram. Estremeceram-se os semblantes.
Duas faces, então pasmas, passaram a ensaiar feições, tentando expressar alegria, disfarçar o constrangimento, fosse o quê fosse, foi em vão. Ao final de caras e caretas, só restou um singelo, sutil, e quase imperceptível sorriso em cada face.
O corpo de cada um quase desmoronou ao se dar conta do outro, segundos depois os corpos se enrijeceram, como se travados.
Então, meio por instinto, meio por vontade, os braços passaram a, levemente, estenderem-se. E, procurando o pescoço da outra pessoa, dois corpos se enlaçaram. Os rostos se aproximaram dos corpos, tanto, que o ar que cada um respirava, era um ar carregado com o cheiro do outro, cheiro e outras características, tão íntimas e secretas que valiam mais que qualquer jóia.
Aquele frenesi calado durou quanto tempo? Poderiam se minutos, horas. Como poderiam ser anos, décadas. Como poderiam ser apenas poucos segundos. Mas foi a explosão de todo o desejo contido, num ato de paixão latente.
Quando cessou, tudo esfriou, cada um voltou a ser um. Assim o brilho dos olhos passou a ser opaco, assim toda a vontade adormeceu. E o único vestígio do que ocorrera era um calor de vergonha nos corpos.

(L.M)
Sei que ele não gostaria que colocasse isso aqui, mas a tentação foi grande, e como sei que ele verá isso também, quero dizer que foi ele que me fez gostar de poemas.
E que ele é meu escritor preferido.

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